domingo, 4 de agosto de 2013

CURITIBA (PR) Mostra reúne filmes com temática animal


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
De 30 de novembro a 1º de dezembro acontece, em Curitiba, a 4º edição da Mostra Animal – Mostra Internacional de Cinema Pelos Animais. O evento é um dos mais importantes do país e ajuda promover o debate e a reflexão sobre a defesa e respeito aos animais em suas mais amplas formas. Interessados em inscrever seus filmes – sejam produções independentes ou profissionais, curtas ou longas-metragens – devem entrar no site www.mostraanimal.com.br no link “Inscrições”. A inscrição vai até o dia 15 de agosto e é gratuita.
A Mostra Animal teve sua primeira edição em 2009 e, de lá para cá, vem se consolidando no calendário de eventos para o movimento de respeito aos animais. Na última edição, em 2012, foram exibidas 19 produções nacionais e internacionais. O evento é organizado pela SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura da Cidade e apoio de empresas e organizações importantes como ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais, CNA – Curitiba/Boa Vista, ViSta-se e Semente de Girassol – Produtos Veganos.
“Nos próximos anos, a tendência é que aconteça uma “explosão” do tema animal em nossa sociedade, e o cinema e as artes serão peças importantes para ajudar na conscientização em relação à necessidade de uma nova forma de nos relacionarmos com as outras espécies que habitam nosso planeta”, observa Ricardo Laurino, coordenador da IV Mostra Internacional de Cinema pelos Animais.
Ricardo explica que qualquer pessoa pode colocar uma câmera nas mãos e gravar seu vídeo ou depoimento mostrando a interação entre homens e animais. Além de vídeos amadores, a Mostra contará com filmes consagrados sobre o tema que já viajaram o mundo, além de filmes recentes inéditos no Brasil.
Sucesso em 2012
No ano passado, a Mostra Animal contou com números recordes de filmes inscritos e de público. Com o sucesso, o evento ganhou uma edição itinerante em Brasília, São Paulo e Florianópolis. Entre as produções exibidas em 2012 destacam-se “A Galinha que Burlou o Sistema” de Quico Meirelles, “Quanto Custa?”, de Fiori Voniére, e “Peaceable Kingdom”, de Tribe of Heart,  que emocionou o público presente com uma mensagem de paz e esperança entre humanos e não humanos.
Denúncias importantes também deram o tom da Mostra, com as produções “A Engrenagem”, que conta com Ellen Jabour e Eduardo Pires no elenco, e que mostrou de forma contundente o que ocorre atrás dos muros da indústria de carnes e derivados de animais, e “Pega de Cara”, filme português que escancara os bastidores e a violência das touradas no país. Filmes mais leves também fizeram parte do mix exibido, como “Porco Amor”, de Ursula Strauch, que encantou as crianças, e “Dança do Tempo”, que levou os presentes a uma viagem de sons, cores e sensações.
Expectativa para 2013
Para o organizador da Mostra Animal, Ricardo Laurino, a expectativa é que esse ano a Mostra receba um número ainda maior de filmes inscritos. Haverá, ainda, nos intervalos de exibição dos filmes, a venda de livros e camisetas, além de alimentos sem ingredientes de origem animal. “Observamos um interesse cada vez maior da sociedade sobre a temática do respeito aos animais”. Um das produções confirmadas para 2013 é o documentário norte-americano da equipe Tribe of Heart, “The Witness” – (A Testemunha), que será traduzido para o português especialmente para a Mostra.
Entrevista
Fiori Voniére. (Foto: Mario Carta)
Fiori Voniére. (Foto: Mario Carta)
Confira o depoimento da diretora de cinema Fiori Vonière, que recebeu o “Oscow” em duas edições, sobre sua relação com os animais e sobre sua experiência com cinema:
Como você descreveria sua relação com os animais?
Uma vez, quando eu era criança, minha mãe, que sempre me acusava de gostar mais da cachorra do que dela, me fez a seguinte pergunta: “Se eu e a Ivi (minha cachorra) estivéssemos nos afogando no mar e você pudesse salvar apenas uma, quem você escolheria?” Com aproximadamente nove anos, pensei bastante sobre a pergunta, tentei me colocar naquela situação e respondi com convicção: “Eu iria morrer tentando salvar vocês duas”.
Na Mostra Animal de 2011, o filme “A Morte de um Cão” gerou inicialmente revolta na plateia, pois o animal parecia estar sofrendo e nada estava sendo feito para ajudá-lo. Apenas nos últimos segundos entendemos o que se passou. Qual foi o objetivo de adotar essa forma provocativa de abordar o assunto?
O filme foi montado para causar emoções específicas, recriando meus próprios sentimentos da primeira vez que tomei a iniciativa de acolher um cão necessitado. Eram três fêmeas que foram abandonadas em frente ao local que eu morava, e duas delas estavam grávidas. Na época eu trabalhava muitas horas, não tinha dinheiro e nem tempo para ajudá-las. Mas com o passar dos dias, meu sentimento foi passando de tristeza para revolta. Fui percebendo como os animais estavam completamente sujeitos à boa vontade de alguém, e que ninguém iria fazer nada a respeito. Então tomei a difícil decisão de assumir essa responsabilidade e acolhi as três. Antes dessa experiência, os animais abandonados faziam parte de um cenário que eu achava não ter capacidade para mudar, ali vi que tenho capacidade e entendi que, se acho que algo deve ser feito, não posso ficar esperando que outra pessoa o faça. Com o filme “A Morte de um Cão” busquei recriar esse processo. Pela manipulação do tempo através da montagem, pude levar o espectador a um ponto tal de angústia até que ele deseje estar no meu lugar para poder fazer alguma coisa. Decidir agir é a parte mais difícil do processo, acredito que se o espectador chegar a esse ponto na sala de cinema, talvez quando se deparar com a mesma situação no mundo real, a decisão de ajudar já tenha sido tomada.
Na Mostra Animal 2012, “Quanto custa”, também deixou os espectadores em suspenso. A primeira metade do curta aparentemente não tem qualquer relação com os animais, só a partir do meio é que você faz uma conexão brilhante. Como surgiu essa ideia?
Minha intenção foi de usar o vídeo como um dispositivo que possibilite ao espectador ter uma percepção intensificada da realidade e, consequentemente, maior compreensão da mesma. Para os protetores de animais, fazer a relação que o filme propõe é corriqueiro, acontece toda vez que vemos um ser vivo com etiqueta de preço, mas a maioria das pessoas não consegue enxergar problema nisso. Neste sentido, tive a ideia de sobrepor as imagens dos animais à venda a um áudio que escancarasse essa prática, assim como relacionar o processo capitalista a que objetos e animais estão sujeitos, expondo que tudo que é vendido é mercadoria e que, portanto, também é tratado, trocado e descartado como mercadoria. Isso é óbvio, mas é algo tão comum que se tornou invisível. Aí entra a capacidade que o audiovisual tem de fazer o espectador rever uma realidade da qual estava anestesiado apresentando o mesmo problema de uma forma diferente para que possa ser novamente notado, pois mesmo uma imagem forte perde seu efeito quando esta inserida na rotina.
Você poderia contar um pouco sobre sua experiência com cinema? Como surgiu seu interesse na área?
Sempre gostei de cinema, desde criança meus interesses para escolher filmes na locadora eram, no mínimo, esquisitos. Quando adolescente percebi na produção cinematográfica a única maneira de estudar todos os assuntos aleatórios que me intrigavam, e transformá-los num produto consumível por todo tipo de pessoas, podendo atingi-las em um nível mais profundo com questões que muitas não teriam acesso de outra maneira. Acredito muito que tenho algo a comunicar a sociedade. Venho trabalhando com direção de arte, fotografia e, principalmente, montagem. Também procuro estar sempre escrevendo roteiros e dirigindo minhas próprias produções.
Após ter recebido o Oscow 2011 e 2012 em sua categoria, a que atribui a escolha do público por duas vezes consecutivas? Estilo, criatividade, originalidade? Como surge a inspiração?
O mérito dos filmes é exatamente a simplicidade, principalmente para o público da Mostra Animal. Ambas as ideias são óbvias, clichês, entretanto, temos dificuldade para transmiti-las para a sociedade. Acho que o público decidiu homenagear os meus filmes por causarem emoções capazes de transmitir a qualquer um tudo aquilo em que acreditamos, e que, muitas vezes, tentamos sem sucesso explicar às pessoas que não estão acostumadas a enxergar os animais com o respeito que nós enxergamos. Em ambos os casos, a inspiração veio a partir de propostas para trabalhos da faculdade de cinema. Como a questão animal é parte importante da minha vida, acaba estando presente quando busco questões relevantes a serem abordadas.
Qual a sensação de ganhar um Oscow?
É incrível! Da primeira vez que ganhei, algo dentro de mim dizia “Você vai ganhar, se prepare”… Eu senti o quanto “A Morte de um Cão” tinha emocionado o público, mas racionalmente eu olhava as outras produções e dizia: “Não, o Fulano vai ganhar”. Foi só quando peguei a estátua que caiu a ficha, e então comecei a chorar e falar besteiras, pois não havia me preparado. Das duas vezes foi muito emocionante. Para mim, o Oscow é um grande incentivo, é a prova de que estou indo pelo caminho certo, que o público tem visto em mim capacidade para utilizar a linguagem cinematográfica em prol dos animais.
Você está trabalhando em algum curta para a IV Mostra Animal?
Sim, mas ainda não estou produzindo, estou madurando uma ideia e pretendo começar a filmar em breve.
Que conselhos daria para quem se interessa por cinema e gostaria de participar da Mostra Animal apresentando uma obra, porém não tem muita experiência?
A primeira coisa é colocar a ideia no papel, esqueça o cinema por enquanto, escreva o que você quer comunicar numa folha, e só o que estiver na sua cabeça. A partir disso, faça pesquisas, procure o que outras pessoas já falaram sobre o assunto, ou sobre qualquer coisa que tenha a mínima relação com o que você quer contar. Depois de muita pesquisa você compõe o discurso do seu filme. Você precisará recriar esse discurso através de imagens e som, e cinema é emoção. Que emoções você precisa causar no espectador para transmitir seu recado? Decida isso e então assista a filmes que vão te inspirar para transformar sua ideia nas imagens certas. O mais importante é usar o que temos de único, tem pouco valor um filme que qualquer um poderia ter feito, por exemplo, não comunique: “os animais sofrem”, comunique: “é isso que sinto quando os animais sofrem”. Quando alguém vai ao cinema está esperando sentir emoções, identificar-se com o tema (por mais distante que esteja da vida da pessoa), ninguém quer receber informações de uma cartilha. De resto, uma maquina fotográfica, um programa simples de edição (Movie Maker) e um pouco de senso estético dão conta do trabalho.
Serviço
Inscrições de filmes para a IV Mostra Animal – Mostra Internacional de Cinema Pelos Animais.
Data: até 15 de agosto
Mais informações: www.mostraanimal.com.br
Inscrição gratuita
Informações para a imprensa
Literato Comunicação e Conteúdo
(41) 3023 6600
www.literatocomunicacao.com.br
www.twitter.com/literato_com
Roberta Braga (41) 9677-7294


Fonte: ANDA

quarta-feira, 19 de junho de 2013

“Brasil, vamos acordar, o professor vale mais do que o Neymar”

    Nos documentos oficiais do MEC sobre gestão escolar fala-se sobre a conquista da Democracia Representativa, isto é:
"uma democracia em que todos os cidadãos, como sujeitos históricos conscientes, lutam pelos seus direitos legais, tentam ampliar esses direitos, asompanham e controlam socialmente a execução desses direitos, sem deixar de cumprir, em contrapartida, os deveres constitucionais de todo cidadão" (MEC, 2004, p.16)
             
        O que mais me deixa transtornada  é saber que na legislação educacional há uma enorme demanda pela formação do cidadão critico e ativo, que aprenda a pensar, cidadão que se serve dos seus direitos mas tambem sabe dos seus deveres.... mas na hora que o povo vai as ruas e exige seus direitos os políticos e a polícia argumentam que fazem uso da força por que aqueles que estão nas ruas não pensam, são um monte de irresponsaveis e desocupados que não sabem o que estão fazendo...

Então que acabem de uma vez os discursos oficiais que pregam a busca por uma educação de qualidade e de formação do cidadão crítico... e adimitam que seu unico interesse controlar a população de forma ditatorial!

         Que admitam que o que desejam ainda é uma formação técnica, uma preparação para o mercado de trabalho... Eles mesmos, a partir da postura que tomam nas leis que aprovam, sabem que na educação e nas suas iniciativas os professores são os mais passivos...

       Aqueles que estão em sala de aula a muitos anos e que participam das tradicionais manifestações com seus sindicatos que me desculpem, MAS NÃO PODEMOS ESPERAR A PROXIMA ORGANIZAÇÃO SINDICAL PARA SAIR AS RUAS, as manifestações de segunda e terça mostraram que o povo realmente quer que tudo mude e que se invista em educação... então Srs professores, vamos aproveitar e deixar de usar apenas decisões sindicais e a busca de melhorias salariais (como se isso unicamente fosse resolver o problema da educação) para sair a rua... vamos chamar todos, vamos usar as midias para mobilizar esse pessoal que saiu as ruas todos estes dias pra buscar não só melhoria salarial, mas acima de tudo a verdadeira consciencia do que é educação de qualidade... e de como esta pode mudar o país... as ações ogevrnamentais por aumento nos investimentos na educação tem direcionado seu foco para demandas internacionais... que reflita em melhores desempenhos no Pisa... bem como investindo pesadamente em tecnologias na educação, mas este tipo de iniciativa não melhorará verdadeiramente a educação, apenas à modernizará... É PRECISO QUE O PROFESSOR POSSA SER AUTONOMO, dirigir sua prática, ser valorizado pela função que desempenha e, sala... e não apenas fornecer à escola autonomia financeira e administrativa visando uma desconcentração de obrigações por parte dos orgãos públicos!

           Também devemos conscientizar a população brasileira de que o professor querer melhoria salarial e não aceitar ganhar apenas R$ 800 (quando ganha) por 20 horas de trabalho, não significa preguiça, ganancia ou corpo mole, mas sim maior dignidade e qualidade nas atividades desenvolvidas em sala, porque ninguem sabe as demandas que existem por trás de uma aula de qualidade, que se preocuope em formar pessoas criticas, criativas e não simples analfabetos funcionais, que saem das escolas de educação básica para o ensino superior e dali para o mercado de trabalho (isso quando não vão direto da formação básica para a "escravidão velada" com baixos salários e baixa qualidade de vida)....

         Nós professores precisamos nos mexer, somos nós que precisamos abrir os olhos do povo que nos veem como um monte de incompetetes desatualizados e preguiçosos... nossa profissão precisa ser valorizada ... TODOS OS PROFESSORES TEM SEU VALOR... só estão cansados de ser usados...
E por isso toda esta multidão que se uniu na segunda (17) precisa se engajar mesmo na luta pela educação... sair nas ruas e nos apoiar... porque o que aconteceu no Concurso do Estado do Paraná (não só a confusão na entrada, mas também a qualidade das provas e a seriedade em sua aplicação e divulgação dos resultados, bem como a demora de 6 anos por se fazer um novo concurso) ou com os professores de Juazeiro do Norte, não deveria revoltar apenas os envolvidos diretamente, mas todos aqueles que quando vão reclamar do governo falam das necessidades de melhoria na educação, segurança e saúde...e de investimento nestas ao invés de estádios de futebol... mas que na verdade não saem para ajudar os professores, apenas criticam as paralisações e greves dos professores...
       Não importa que um professor universitário ganhe R$8.000 e ainda assim faça greve... não importa o valor do salário... importa sim os direitos não estarem sendo respeitados não haver reajuste salarial, progressão de cargo... 
Importa o fato de que o último concurso para professor do Paraná ter sido realizado em 2007... SEIS ANOS ATRÁS... importa que de lá pra cá quem fez a educação do Estado foram professores CONTRATADOS... que não possuiam nenhum tipo de benefício....

Importa que chegou a hora de acordar!!! 


Raquel Zanini

terça-feira, 18 de junho de 2013

Leoni publica música de apoio a protestos





 FONTE: http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2013/06/17/leoni-publica-musica-de-apoio-a-protestos-no-youtube-ouca.htm

Despirocar - Apanhador Só


Faz tempo eu tô com azia
Durmo mal, tenho alergia
Quando acordo, nem bom dia
E a ducha fria ainda me dói
Em atraso permanente
Escolho a roupa, escovo os dentes
Abro a porta da frente e a luz do dia me corrói

Então eu me pergunto, quando sobra algum segundo
Em que eu reflito sobre o mundo, se funciona e coisa e tal
Concluo que tá preta a situação, pra lá de azeda
O leite que ainda sai da teta nem sequer é integral

Desesperado eu penso em gargalhar
Mas decido respeitar a minha dor
Talvez seja melhor despirocar
De vez, talvez, de vez
Talvez, de vez

No bus eu subo afoito, engolindo algum biscoito
Acotovelo logo uns oito, eu tô cansado e vô sentar
Depois do chacoalhaço, tô no trampo e um palhaço
Mesmo me vendo um bagaço, já começa a me ordenhar

Digito, atendo o fone, meio dia eu sinto fome
Me levanto sem meu nome e vou pra fila do buffet
Depois de dois cigarros, acomodo o meu pigarro
Me reponho de bom grado e termino o afazer

Desesperado eu penso em gargalhar
Mas decido respeitar a minha dor
Talvez seja melhor despirocar
De vez, talvez, de vez
Talvez, de vez

Talvez seja melhor despirocar
De vez, talvez seja melhor
Despirocar de vez
Talvez, talvez

Cansado eu chego em casa, o willian bonner me afaga
Me contando alguma fábula de algo que ocorreu
Requento qualquer rango, cambaleio até o meu canto
Ainda nem fechei o tampo e o meu corpo adormeceu

Desesperado eu penso em gargalhar
Mas decido respeitar a minha dor
Talvez seja melhor despirocar
De vez, talvez, de vez
De vez, talvez


Também é interessante ler o texto do Cristiano Castilho sobre a política na música brasileira publicado em seu blog na Gazeta do Povo

sexta-feira, 15 de março de 2013

Um Francisco servidor da repressão?

Texto extraido do site Carta Maior, de Dermi Azevedo


O papel do cardeal Bergoglio no desaparecimento de religiosos foi confirmado por cinco testemunhas, há três anos, em depoimento ao jornalista Horácio Verbitsky, do jornal ‘Página 12’, de Buenos Aires. O novo Papa é acusado de ter retirado a proteção a sacerdotes procurados pela repressão militar. Ao comentar sobre o novo pontífice, a presidente da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, foi lacônica: "Só temos que dizer: Amém".


          A Igreja Católica da Argentina "nunca se interessou" pela situação de 150 sacerdotes, religiosos, seminaristas e leigos católicos assassinados pela ditadura militar desse país. "Pelo contrário: ficou calada e nunca reclamou por eles", disse quarta-feira (13), na Itália, a presidente da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini. Sobre a escolha do novo pontífice, foi lacônica: "Sobre esse Papa, só temos que dizer: Amém".

         O papel do cardeal Bergoglio no desaparecimento de religiosos foi confirmado por cinco testemunhas, há três anos, em depoimento ao jornalista Horácio Verbitsky, do jornal ‘Página 12’, de Buenos Aires. O novo Papa é acusado de ter retirado a proteção a sacerdotes procurados pela repressão militar: uma teóloga professora de catequese na diocese de Morón, o ex-superior de uma casa de padres, além de três vítimas da tortura (dois leigos e um sacerdote).

         Dois meses após o golpe militar de 1976, o bispo de Morón, Miguel Raspanti, tentou proteger os padres Orlando Yorio y Francisco Jalics, e foi desautorizado por Bergoglio. Outro testemunho é o do padre Alejandro Dausa, que foi sequestrado em Córdoba, quando era seminarista; sofreu torturas durante seis meses. Dausa diz ter ouvido de Yorio e de Jalics que foram entregues à repressão pelo novo Papa.

        Um relatório sobre esses crimes contra a humanidade foi encaminhado, à época, à Conferência Episcopal Argentina e permanece, até hoje, sem qualquer resposta. Essa denúncia denota o sentimento de perplexidade que domina os militantes de direitos humanos na Argentina, no Brasil e em todo o mundo, diante da eleição do cardeal portenho para o Pontificado Romano.

         Sem resposta também se encontra, até agora, a carta que o advogado católico e líder dos direitos humanos Emilio Fermín Mignone (pai da jovem Mônica Maria Candelária, desaparecida política) encaminhou à direção da conferência dos bispos, que participava de um almoço em Buenos Aires, com um dos principais chefes da ditadura, general Jorge Rafael Videla.

          Na carta, entregue a um dos bispos por um portador, Mignone critica os bispos pelo segredo e afirma que "o Povo de Deus deve ser bem informado". Como informa Horácio Verbitsky, do jornal ‘Página 12’, da Argentina, Videla confessou à Igreja Católica, em 1978, o que veio a público somente 34 anos depois: os presos desaparecidos foram todos assassinados.

Compensação
Essas denúncias que envolvem o novo papa o acompanharão aonde for. Por isso, comenta-se no Vaticano que Francisco poderá decidir beatificar alguns dos padres mortos pela repressão argentina. Essa seria, para alguns assessores do papa, uma saída conveniente para tentar acalmar os familiares das vítimas do genocídio cometido pelos golpistas no país vizinho.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Governo anuncia que todas as pessoas que recebem Bolsa Família sairão da extrema pobreza



  • Segundo o Governo esta medida vai tirar da miséria 2,5 milhões de brasileiros



Dilma durante cerimônia de anúncio de medidas do Plano Brasil Sem Miséria Gustavo Miranda / O Globo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff anuncia nesta terça-feira o que o governo vem chamando de “o fim da miséria', com a inclusão dos ultimos 2,5 milhões de brasileiros beneficiários pelo Bolsa Família que ainda se encontravam na linha da pobreza extrema, em um plano de complementação da renda repassada mensalmente. As famílias cuja renda do trabalho mais a verba do Bolsa Família somem menos de R$ 70 por pessoa/mês - quem vive com menos está na miséria, segundo corte estabelecido pelo governo - vão receber o complemento para que alcance este valor.
Com isso, o governo afirma que terá tirado um total de 22 milhões de pessoas da miséria. No entanto, o próprio Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome estima que ainda restam 700 mil famílias “invisíveis”, que ainda não foram encontradas pelo governo para passarem a receber a ajuda social.
A partir de 18 de março, todos os que recebem o Bolsa Família receberão verba suficiente para que fiquem acima do limite de R$ 70 por pessoa. A complementação de renda para esses 2,5 milhões de beneficiários do Bolsa Família vai custar R$ 773 milhões apenas este ano. O valor gasto com o Bolsa Família tem aumentado no governo Dilma. Em 2010, último ano do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, R$ 14 bilhões foram destinados ao programa. A previsão para este ano é de R$ 23 bilhões.
- O Bolsa Família se tornou a grande porta de entrada para a população pobre – afirmou a ministra do Desevolvimento Social e Combate à Fome, Teresa Campello, lembrando que o grande “gênio” que criou o programa foi o ex-presidente Lula.
A ministra explicou que o pagamento do benefício vai variar de acordo com a “severidade” da pobreza. Até agorta, o fato de a pessoa receber o Bolsa Família não era garantia de que ela estava livre da miséria. A ampliação do programa anunciada nesta terça-feira foi criada para resolver o problema e atender “aos mais pobres entre os pobres”.
O plano de superação da extrema pobreza faz parte do programa Brasil Sem Miséria, e o Bolsa Família é uma das estratégias do programa. Segundo o governo, o desafio continua sendo identificar e incluir nos programas sociais brasileiros pobres e miseráveis “invisíveis” que ainda não constam no cadastro usado para o pagamento dos benefícios. Lançado em junho de 2011, o Brasil sem Miséria já localizou, de acordo com o Desenvolvimento Social, 791 mil famílias, que se enquadram no perfil de quem carece da ajuda social da governo.



Fonte: O Globo

 

Pra que servem as petições online contra políticos corruptos?

Considerações interessantes tecidas por Pedro Burgos sobre petições online


Mais de 300 mil pessoas colocaram seus nomes e emails em um abaixo-assinado em repúdio à candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado. Os senadores eleitos não ligaram muito para a voz da internet e escolheram o candidato governista, que já tinha sido presidente da casa de 2005 a 2007, quando renunciou por causa de denúncias de corrupção. Agora, circula pelas redes sociais uma nova petição, exigindo o seu impeachment, e já são mais de 100 mil emails cadastrados. Ela não terá qualquer valor prático, de novo, mas levanta alguns questionamentos interessantes.
A grande dúvida é sobre o poder de viralização de marchas virtuais. Manifestações populares nas ruas seguem com cada vez menos público – vide as genéricas “marchas contra a corrupção” recentes – mas, online, as multidões se aglomeram rapidamente, bradando hashtags de ordem. Na hora que gastei para escrever isto, mais de 10 mil pessoas preencheram o formulário simples da Avaaz (“A Voz”), que se define assim:
A comunidade virtual da Avaaz atua como um megafone para chamar atenção para novas questões; como um catalisador para canalizar as preocupações públicas dispersas em uma única campanha específica e concentrada; como um carro de bombeiros que corre para oferecer uma rápida reação a uma emergência súbita e urgente; ou como uma célula-tronco de ativismo que cresce na forma mais adequada para preencher alguma necessidade urgente.
Para os mais deslumbrados com o “poder da internet” (Clay Shirky et al), as petições online, mesmo que fiquem apenas no mundo online, são poderosas em si, por dar voz e volume às revoltas populares. Al Gore, um cara que todo mundo respeita, teria dito “A Avaaz é inspiradora… e tem feito uma tremenda diferença.” (ou pelo menos é isso que diz o site). E mesmo para quem reconhece a falta de alcance prático de uma coletânea de emails mas ainda assim é otimista, as petições da Avaaz podem ser um indicativo importante do desejo da população, e de certa forma influenciam as manifestações reais. No caso Renan, por exemplo, a petição virou reportagem em vários jornais, e senadores citaram-na na tribuna, antes de votarem secretamente para eleger o peemedebista de Alagoas.
Mas todos os cases de real sucesso da Avaaz, uma organização transnacional sem fins lucrativos1, envolveram ações além do virtual. Há alguns bem interessantes, como este em Mianmar, que envolveu bem mais que cliques e emails. Na descrição do próprio Avaaz:
Milhares de membros da Avaaz pressionaram a União Européia por sanções mais fortes dirigidas aos oficiais da junta militar de Mianmar, mais de 2.000 membros em Singapura enviaram mensagens para seu Ministro das Relações Internacionais pedindo mais firmeza nas relações com os militares de Mianmar, e 50.000 se comprometeram em boicotar Chevron e Total Oil pressionando-os a pararem de fazer negócios com a junta militar. Quando a junta militar proibiu câmeras, telefones celulares, e ligações à Internet como parte da sua repressão, membros da Avaaz doaram mais de USD$ 320.000 para prestar apoio técnico e treinamento para o movimento democrático – fundos distribuídos no território do país por parceiros da Avaaz no Open Society Institute. A Avaaz enviou uma missão à fronteria entre a Tailândia e Mianmar que se reuniu com os principais líderes pró-democracia e garantir a utilização sensata dos recursos doados pelos membros.
Mas voltemos à petição pelo impeachment do Renan. Ela foi criada por uma pessoa qualquer, irritada, como tantos, por ter sido “chamada de palhaço” depois da outra petição. Não há muita informação na página: apenas o nome da causa que deveria ser auto-explicativo (“Impeachment do Presidente do Senado: Renan Calheiros”) e uma justificativa pseudolegal:
Vamos conseguir 1.360.000* de assinaturas (1% do eleitorado nacional) e levar esta petição a votação!! Pela Iniciativa Popular: Constituição Federal de 1988 Art. 61. § 2º – A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
Longe de mim defender o senador, mas não há links para algum artigo explicando as denúncias contra ele2, ou o motivo pelo qual ele deve ser impedido. Isso deveria ser bem importante, até para educar o cidadão e aproximá-lo do noticiário de política, mas como boa parte das causas de internet, esta tem de ser simplificada para caber em um tuíte.
Mas vamos ter fé que todo mundo já está careca de saber as denúncias, que todo mundo lembra do aluguel e pensões pagos por lobistas e já está sabendo das novíssimas acusações. Assumindo que os signatários já sabem por que Renan – o candidato apoiado pelo governo eleito pela maioria e aprovado por mais de 70% da população – não deve tem condições morais de ser presidente da Casa, vamos nos concentrar no que está proposto. Pelo texto na Avaaz, se 1% do eleitorado assinar, a petição será votada no Congresso, como a Ficha Limpa.
Há dois erros aqui. O primeiro é achar que um email e nome (sem RG, CPF, ou assinatura de próprio punho) equivale, para fins legais, a uma “assinatura”. Não vale. A Lei Ficha Limpa (PLP 518/09), citada como exemplo de Iniciativa Popular, teve mais de 1 milhão de assinaturas dessas trabalhosas, que envolve gente coletando canetadas em todo o País por mais de um ano. É interessante lembrar que a Avaaz entrou na onda também, mas apenas quando ela já tinha chegado à Câmara – cada assinatura online disparava uma mensagem para os deputados votarem pela aprovação do projeto de lei.
No caso de Renan, mesmo que 1,3 milhão de emails valessem como assinaturas, a movimentação também seria inócua. Artigo 55, § 2º da Constituição, que fala sobre o que pode provocar a perda de mandato:
a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
No que se refere ao impeachment, a voz do povo é a voz… do povo. A bem da verdade, a petição não deixa claro se quer o impeachment do senador ou apenas tirá-lo da função de presidente. De todo modo, a presidência do Senado (ou o impeachment do presidente) só poderá ser decidido pelo próprio Senado. A não ser que mudem a lei sobre o assunto, o que não é o caso.
Resumindo: a petição é inútil, e lembra aquelas correntes que sempre são ressuscitadas perto das eleições pregando o voto nulo (se 50% das pessoas votarem nulo, Papai Noel aparece, ou algo assim). Se eu pudesse transferir as assinaturas para outra petição, chamaria a atenção das pessoas para a campanha pelo voto aberto. Há algumas petições sobre o assunto na própria Avaaz3, mas por algum motivo elas não são lá muito populares. Se os senadores tivessem que declarar o voto talvez o placar da votação para presidente fosse um pouco diferente – ao menos os senadores de “oposição” (aspas bem grandes) teriam votado contra e a gente teria a sensação de que mais políticos ligam para o que a população pensa.
Não estou atacando quem assina as petições. Na sexta-feira escrevi no meu Facebook que ficava admirado com o “otimismo” das 300 mil pessoas que assinaram a petição anti-Renan. Fui criticado pelo meu “conformismo”, mas a mensagem não era essa. Para esclarecer mais uma vez: eu aprecio de fato o otimismo das pessoas (todos que vi compartilhando eram “de bem”), mas ao mesmo tempo fico um pouco incomodado com a inocência. Está bem claro que petições mal-formuladas assim são absolutamente inócuas.
Mas elas podem fazer mal? Ainda não me decidi, mas essa é uma questão que ocupa a mente de teóricos da internet, como Evgeny Morozov, autor de um livro bem interessante chamado The Net Delusion: (que tem o subtítulo em inglês “o lado negro da liberdade da internet”). Ele põe em dúvida não apenas a eficácia, mas a própria razão de ser do chamado “slacktivism” (ativismo preguiçoso) ou “cliquetivismo”4, e questiona:
Será que a publicidade conseguida através do uso maior das novas mídias vale as perdas organizacionais que as entidades ativistras tradicionais provavelmente sofrerão, à medida que pessoas comuns começam a desistir de ativismo convencional (marchas, ocupações, confrontação com a polícia, litigância estratégica, etc), que tem a eficiência melhor provada, e começam a abraçar mais formas de “ativismo de sofá”, que podem ser mais seguras mas as quais tem eficácia largamente não-comprovadas?
Essa é uma questão que vem e volta a cada #forasarney no Twitter e, como Morozov comenta, faltam estudos científicos para comprovar – ou desprovar – a tese de que os ativistas de sofá perdem o interesse pelas manifestações tradicionais. Que um clique vira “manifestação suficiente”, quando deveria ser apenas o começo.
Na dúvida, use as mesmas ferramentas eletrônicas, mas de forma mais direta. Siga as notícias da política com mais atenção e mande um email (ou um reply no Twitter) cobrando o seu parlamentar sobre as questões importantes. Dá um pouco mais de trabalho, mas pelo menos você pode escolher o assunto do protesto. Já é um início.

  1. Algumas pessoas põem em dúvida a própria idoneidade da Avaaz, que recebe alguns milhões de dólares em doações, mas nada foi exatamente provado contra a organização ainda. 
  2. O UOL resumiu a eleição e todas as denúncias nesta reportagem. Daquela época, muita gente só se lembra da jornalista Mônica Velloso, pivô das denúncias com quem Renan teve um filho – era o lobista Claudio Gontijo que pagava a bolsa alimentícia da criança. 
  3. Uma delas, mais humilde, nem chegou aos 200 votos. O Senador Cristovam Buarque (PDT-DF) faz campanha pelo voto aberto quase todo dia no seu Twitter
  4. Neste artigo para a NPR, em 2009, Morozov diz que o “Slacktivism” é “o tipo ideal de ativismo para uma geração preguiçosa: por que considerar piquetes e o risco de prisões, brutalidade policial ou tortura quando alguém pode falar tão “alto” em uma campanha no espaço virtual?” A ideia é melhor desenvolvida em outros posts do seu finado blog, Net Effect